Projeto Pioneiro de Embarcações de Oportunidade no Brasil: revisão crítica de cinco anos e lições aprendidas

Pedro de Moraes Rego Martins – [email protected]

Adriano Ranieri Cervinho Viana – [email protected]

Pedro Rafael Nonato Perez – [email protected]

Maíra Ventura de Oliveira – [email protected]

Suely Ortega – [email protected]

Stephanie Dexheimer Caplan – [email protected]

Caroline Garcia da Cruz Canellas – [email protected]

RESUMO

O Projeto Mar Atento foi concebido e implementado com o objetivo de envolver e treinar a comunidade pesqueira artesanal brasileira para responder a um derramamento de óleo que atingisse as águas costeiras brasileiras. Após 5 anos, até 500 pessoas foram envolvidas, 294 membros da comunidade pesqueira foram treinados e 93 Embarcações de Oportunidade (Vessels of Opportunity, VoO) foram registradas em um banco de dados geográficos, melhorando o preparo geral e o processo de tomada de decisão no caso de um derramamento de óleo.

O projeto é baseado em quatro marcos principais: (i) Levantamento de dados secundários e primários para o planejamento e design detalhado do projeto, incluindo, entre outros, a comunidade pesqueira local, a logística local e a cadeia de suprimentos; (ii) Implementação de vários esforços de engajamento, principalmente a Exposição Expo Mar Atento; (iii) Elaboração e execução de um treinamento teórico e prático personalizado, com foco nos conceitos operacionais de resposta a derramamento de óleo em um ambiente costeiro; e (iv) Evento de Lições Aprendidas, onde a comunidade pesqueira assiste a um vídeo destacando as atividades das quais participou durante as fases anteriores do projeto. Além disso, eles recebem um álbum de fotos e têm a oportunidade de compartilhar suas impressões sobre o projeto.

Essa abordagem sequencial tem sido um fator chave de sucesso para o projeto. Ela permite o envolvimento da comunidade pesqueira e dos indivíduos de forma gradual e metódica, criando um nível adequado de relacionamento e familiaridade, antes de desenvolver a competência. Embora tenha atingido suas metas e sido amplamente aceito, o projeto também apresentou alguns desafios futuros: aumento da frequência dos treinamentos, a necessidade de definir um método para a manutenção do banco de dados e um mecanismo que permita a inclusão da comunidade pesqueira em exercícios e treinamentos regulares do setor.

INTRODUÇÃO

As comunidades pesqueiras tradicionais são reconhecidas como um dos grupos mais vulneráveis e suscetíveis aos impactos diretos relacionados a eventos de derramamento de óleo decorrentes de atividades de petróleo e gás (P&G) offshore (Da Silva, 2014; Herculano, 2012; De Oliveira, Calil e Pina, 2020). O engajamento e o desenvolvimento de comunidades resilientes capazes de enfrentar cenários de riscos naturais e industriais tem recebido destaque global. No setor de P&G, vários documentos e orientações técnicas publicados recentemente sugerem abordagens e procedimentos sobre como lidar com essa questão (UNDP, IFC e IPIECA, 2017; API, 2014; IFC, 2007; De Oliveira, Calil e Pina, 2020).

Conforme observado em várias emergências envolvendo derramamentos de óleo, como nos casos da Deepwater Horizon (Macondo/Golfo do México), MV Rena (Tauranga/Nova Zelândia), derramamento de óleo no Nordeste do Brasil e Cosco Busan (Baía de São Francisco/EUA), os membros da comunidade local se dirigem ao local do acidente com o objetivo de prestar apoio à resposta (IPIECA e IOGP, 2015; Richetti e Milaré, 2021).

Segundo autores como a International Petroleum Industry Environmental Conservation Association (IPIECA) e a International Association of Oil & Gas Producers (IOGP) (2015), Virtanen (2015) e Tucker e O’Brien (2011), os voluntários locais podem ser um recurso valioso na resposta ao derramamento de óleo, fornecendo conhecimento local (por exemplo, marés, correntes e ocorrência de vida selvagem) e motivação adicional para mitigar o impacto do óleo na região, além de contribuir financeiramente para que essas comunidades se recuperem durante um período de interrupção de suas atividades econômicas.

Como parte de uma iniciativa voluntária de responsabilidade social, duas empresas de petróleo e gás fundaram o Projeto Mar Atento. O projeto foi desenvolvido para atender à necessidade do setor de um banco de dados abrangente de embarcações de oportunidade capazes de responder a derramamentos de óleo e, ao mesmo tempo, manter relações positivas com as partes interessadas.

O objetivo deste artigo é apresentar os resultados do Projeto Mar Atento, bem como os desafios identificados e as lições aprendidas para melhorar o preparo para a resposta a emergências.

O Projeto Mar Atento foi iniciado em 2017 como um projeto piloto, com foco inicial nos municípios de Cabo Frio, no estado do Rio de Janeiro (RJ) e Marataízes, no estado de Espírito Santo (ES), situados ao longo da costa brasileira. O objetivo geral do Projeto Mar Atento é envolver e treinar os pescadores para uma participação efetiva na resposta a derramamentos de óleo no mar. O projeto visa aprimorar o preparo para emergências no setor de petróleo e gás e promover uma colaboração positiva com a comunidade pesqueira. Além disso, o projeto serve como uma etapa fundamental para o estabelecimento de um banco de dados abrangente de Embarcações de Oportunidade, capaz de dar suporte a todo o setor de P&G no Brasil.

O projeto piloto consistiu na implementação do Projeto Mar Atento em dois municípios para refinar o escopo do projeto com base nos resultados dessa primeira implementação. O projeto piloto foi bem-sucedido, identificando pontos fortes e áreas de melhoria para as atividades subsequentes. Com base nos conhecimentos obtidos com o projeto piloto, o Projeto Mar Atento passou a ser uma iniciativa contínua em 2019, estendendo sua implementação a outros municípios localizados na área de influência do setor de petróleo e gás na Bacia de Campos (ver Figura 2). Esses municípios incluem Anchieta/ES, Itapemirim/ES, São João da Barra/RJ e São Francisco de Itabapoana/RJ.

Os princípios norteadores do Projeto Mar Atento estão detalhados na Figura 2.

Figura 2: Princípios Fundamentais do Projeto Mar Atento

Devido à pandemia da COVID-19, as atividades de campo do projeto foram interrompidas para atender às medidas de saúde e segurança da Organização Mundial da Saúde (OMS), retornando somente em 2022.

MÉTODOS

Em sua fase inicial, durante o projeto piloto de 2017, o método de execução do Projeto Mar Atento foi estruturado em torno de três fases: planejamento, engajamento e treinamento. O grau de envolvimento e a participação proativa demonstrados pelos pescadores, aliado ao compromisso de instituir um processo de melhoria contínua, levaram à incorporação de uma nova quarta fase, denominada “Lições aprendidas”, na estrutura do projeto. Essa fase adicional é considerada uma oportunidade de disseminar os resultados do projeto, apresentar a documentação fotográfica e em vídeo dos eventos e facilitar a troca de experiências entre os participantes do projeto.

O projeto piloto também identificou uma demanda da comunidade pesqueira para envolver não apenas os pescadores (Módulo de Proteção Costeira), mas também a comunidade pesqueira mais ampla, incluindo as famílias dos pescadores, profissionais da comunidade e outros residentes.

Consequentemente, em resposta a essa solicitação, foi criado um novo módulo dentro da Fase de Treinamento, denominado Módulo de Limpeza de Praias.

Com base nesse feedback, a estrutura inicial do projeto passou por revisão, levando à incorporação das quatro fases principais do Projeto Mar Atento: Planejamento, Engajamento, Treinamento e Lições Aprendidas (Figura 3).

Figura 3: Nova metodologia do Projeto Mar Atento, considerando as lições aprendidas

A fase inicial (Planejamento) contempla a formulação de um documento abrangente que descreve o plano de trabalho do projeto em todas as suas etapas. Inicia-se com a aquisição de informações da comunidade pesqueira local através de pesquisas primárias, realizadas por meio de visitas pessoais às partes interessadas, como instituições pertinentes e entidades de liderança em cada município escolhido, e pesquisas secundárias, com base na literatura existente. Nessa fase, são estabelecidos os critérios de qualificação para que os indivíduos da comunidade pesqueira participem da fase 3 (Treinamento) e, concomitantemente, inicia-se o processo de registro de Embarcações de Oportunidade (Vessels of Opportunity, VoO). 

Na segunda fase (Engajamento), é realizado um evento para a comunidade pesqueira chamado Expo Mar Atento, visando fortalecer a conexão entre o público-alvo e os organizadores do setor por meio do tema de resposta a derramamento de óleo no mar e para apresentar a próxima etapa do projeto. A Expo Mar Atento consiste em um evento com espaços informativos e interativos, tais como: i) exposição de fotos e vídeos; ii) demonstração de equipamentos; iii) modelos interativos de resposta a derramamento de óleo, incluindo o uso de Realidade Virtual (óculos 3D); e iv) um espaço dedicado à Marinha do Brasil, no qual as autoridades respondem a perguntas sobre documentação e segurança, entre outros tópicos.

Durante a segunda fase, denominada fase de Engajamento, é organizado um evento chamado Expo Mar Atento para a comunidade pesqueira. Esse evento foi estrategicamente projetado para fortalecer o vínculo entre o público-alvo e os organizadores do setor, com foco temático na resposta a derramamentos de óleo no mar. O objetivo principal é oferecer uma prévia da próxima etapa do projeto. A Expo Mar Atento abrange uma série de componentes informativos e interativos, incluindo: i) apresentação de fotos e vídeos; ii) demonstração de equipamentos; iii) modelos interativos de resposta a derramamentos de óleo, incorporando a utilização de Realidade Virtual (óculos 3D); e iv) um espaço dedicado à Marinha do Brasil, no qual as autoridades respondem a perguntas relacionadas a documentação e segurança, entre outros tópicos pertinentes.

Ao longo das fases 1 (Planejamento) e 2 (Engajamento), foram identificadas e sistematicamente mapeadas as embarcações pesqueiras com potencial para servir como Embarcações de Oportunidade. Foi realizada uma inspeção abrangente de cada embarcação para avaliar a conformidade com critérios mínimos de elegibilidade, conforme descrito na Tabela 1. As informações pertinentes sobre cada embarcação foram meticulosamente documentadas em um formulário designado e, posteriormente, inseridas em um banco de dados abrangente para manutenção sistemática de registros.

Tabela 1: Critérios mínimos para VoOs

Critérios Mínimos
Comprimento da embarcação10 – 12 m
Área de convés10 – 12 m2
Calado mínimo1,2 m
Potência mínima do motor:4 – 6 cc / 90 – 150 hp
Documentação atualizadaRegistro da embarcação, seguro etc.

A terceira e principal fase, denominada fase de Treinamento, engloba um programa abrangente de treinamento teórico e prático que elucida os princípios operacionais inerentes à resposta a derramamentos de óleo no mar. O módulo de treinamento teórico se inspira no modelo definido pela Convenção Internacional sobre Preparo, Resposta e Cooperação para Poluição por Óleo (Oil Pollution Preparedness, Response and Cooperation, OPRC) de Nível Um (Primeira Intervenção) da Organização Marítima Internacional (OMI), meticulosamente adaptado para se alinhar à carga de trabalho proposta e aos objetivos previstos, levando em consideração as características do público-alvo. Os principais tópicos abordados no treinamento são: i) Introdução (importância e riscos associados ao setor de petróleo e impactos na costa e o papel da comunidade pesqueira na mitigação); ii) Segurança (protocolos de segurança no setor de petróleo, riscos associados à resposta a derramamentos de óleo e respectivos procedimentos de segurança); iii) Procedimentos de resposta a derramamentos de óleo (características e comportamento de vários tipos de óleo

e utilização de equipamentos em procedimentos de resposta); e iv) Procedimentos de desmobilização (limpeza, manutenção e armazenamento de equipamentos e procedimentos de descontaminação).

O treinamento prático é dividido em dois módulos distintos: Proteção Costeira e Limpeza de Praias. Cada módulo acomoda uma turma de até 30 participantes, conforme detalhado na Tabela 2. Antes do início das sessões de treinamento, todos os participantes recebem equipamentos de proteção individual (EPI) adaptados aos requisitos exclusivos do módulo correspondente.

Após a conclusão bem-sucedida do regime de treinamento, cada participante recebe um certificado de conclusão. Esse certificado serve como reconhecimento formal de sua participação bem-sucedida e proficiência nos módulos específicos de Proteção Costeira e Limpeza de Praias, ressaltando seu preparo e competência na resposta a derramamentos de óleo no mar.

Tabela 2: Critérios de qualificação para membros da comunidade pesqueira participarem da fase 3 (Treinamento)

Proteção CosteiraLimpeza de Praias
Ser naturalizado ou ter residência permanente no município selecionado;Ter 18 anos de idade ou mais;Ser pescador oceânico;Não ter vínculos com partidos políticos ou ocupar um cargo público.Ser naturalizado ou ter residência permanente no município selecionado;Ter 18 anos de idade ou mais;Ser pescador oceânico e/ou ter parentesco com pescadores;Não ter vínculos com partidos políticos ou ocupar um cargo público.

O Módulo de Proteção Costeira (Figura 4) foi projetado especificamente para pescadores de áreas próximas à costa. Esse módulo se concentra na transmissão de conhecimentos e habilidades relacionados a estratégias de proteção costeira, abrangendo a contenção e a recuperação de petróleo no mar por meio da implantação de barreiras de contenção, skimmers e tanques flutuantes. Além disso, o módulo aborda a proteção de áreas sensíveis por meio da utilização de barreiras absorventes.

A implementação de estratégias de proteção costeira é facilitada pelo envolvimento ativo das embarcações pesqueiras dos próprios participantes, que foram previamente registradas como Embarcações de Oportunidade durante as fases anteriores. Essa abordagem garante uma experiência de aprendizado prática e diretamente aplicável, alinhada com os requisitos exclusivos e os contextos operacionais dos pescadores oceânicos participantes.

Figura 4: O Módulo de Proteção Costeira na terceira fase

O Módulo de Limpeza de Praias (Figura 5) é voltado para a comunidade pesqueira em geral e se concentra em instruir os participantes sobre diversas técnicas de limpeza aplicáveis ao ambiente de praias de areia. Esse módulo utiliza uma variedade de equipamentos, incluindo carrinhos de mão, rodos, ancinhos, peneiras e pás.

Para aumentar a eficiência organizacional e a capacidade de resposta a emergências, as informações sobre os participantes, os formulários de registro de embarcações registradas e as localizações das instalações, como colônias de pescadores e portos, são consolidados em um banco de dados georreferenciado. Este banco de dados abrangente serve como um recurso valioso, permitindo a ativação rápida e eficaz dos ativos relevantes, tanto recursos humanos quanto embarcações, durante situações de emergência.

Figura 5: O Módulo de Limpeza de Praias na terceira fase

A fase final, denominada “Lições Aprendidas”, segue os princípios das melhores práticas em Gestão de Projetos. Essa fase fundamental é caracterizada por um evento dedicado à divulgação dos resultados do projeto. O evento inclui uma apresentação em vídeo englobando os destaques do projeto na comunidade, a distribuição de um livro de fotos e um fórum para a troca de experiências entre os organizadores e os participantes do projeto.

Durante essa fase, são feitos esforços meticulosos para reunir as percepções do público-alvo em relação ao projeto. Além disso, é realizada uma avaliação estruturada para identificar os pontos fortes observados e as oportunidades de melhoria. Esse processo de avaliação culmina com a criação de um Plano de Ação Pós-Projeto, contribuindo com insights valiosos para as iniciativas de melhoria contínua do projeto.

Além da reunião com a comunidade, uma sessão separada é convocada com a equipe de organização do projeto. Essa reunião serve como um fórum de avaliação técnica para deliberar sobre possíveis melhorias nos processos do projeto. O engajamento colaborativo entre os organizadores e os participantes, juntamente com os mecanismos de feedback estruturados, enfatiza o compromisso de refinar e aprimorar a eficácia do projeto para futuras implementações.

Levando em conta a pandemia global causada pela COVID-19, as atividades presenciais do Projeto Mar Atento foram suspensas por tempo indeterminado para priorizar a segurança da equipe do projeto e dos participantes. A fim de manter o envolvimento contínuo com a comunidade pesqueira nos municípios onde as atividades foram concluídas ou temporariamente interrompidas, foi implantado um plano estratégico de comunicação. Reconhecendo o Facebook e o WhatsApp como principais canais de comunicação para o público-alvo, essas plataformas foram priorizadas.

Mantendo uma linha direta de comunicação, o contato telefônico foi mantido via WhatsApp. Atualizações frequentes, com foco em tópicos pertinentes, como conscientização ambiental, medidas de saúde e segurança, protocolos de resposta a emergências e outros assuntos relevantes para o público-alvo, foram divulgadas regularmente na plataforma do Facebook. Essa estratégia de comunicação adaptativa visava preencher o afastamento físico causado pela suspensão das atividades presenciais, garantindo a continuidade da conexão, a disseminação de informações e o apoio à comunidade durante as circunstâncias desafiadoras impostas pela pandemia.

RESULTADOS/DISCUSSÃO

Inicialmente, foram executados projetos-piloto entre outubro e dezembro de 2017 nos estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo. Devido ao notável sucesso e à recepção positiva da parte dos pescadores, foi tomada a decisão estratégica de transformar os projetos em um modo contínuo, juntamente com uma expansão para novos municípios. De 2017 a 2023, o projeto Mar Atento realizou atividades em comunidades pesqueiras em 6 municípios ao longo da costa brasileira: Cabo Frio/RJ, Marataízes/ES, Anchieta/ES, Itapemirim/ES, São João da Barra/RJ e São Francisco de Itabapoana/RJ (Figura 6).

Figura 6: Linha do tempo do Projeto Mar Atento

Para avaliar de forma abrangente o engajamento da comunidade pesqueira e o registro de Embarcações de Oportunidade durante a implementação do projeto, informações detalhadas sobre o número de pessoas engajadas e de embarcações registradas no final de cada fase são apresentadas sistematicamente na Tabela 3. No total, 294 membros da comunidade pesqueira e 36 embarcações de oportunidade foram treinados, e mais de 500 pessoas foram engajadas em todas as fases. Esses resultados são muito positivos, considerando que todas as vagas oferecidas para treinamento foram praticamente preenchidas.

Tabela 3: Resultados do Projeto Mar Atento

LocalAno de início/fim das atividadesPresentes na Expo Mar Atento (Fase 2)Pessoas qualificadas (Fase 3)Embarcações RegistradasEmbarcações TreinadasPresentes no evento Lições Aprendidas (Fase 4)
Cabo Frio/ RJ2017/20191512822636 l
Marataízes/ ES2017/20191543015623
Anchieta/ ES2019/20222103579613
Itapemirim/ ES2019/2022282609610
São João da Barra/RJ2019/202331226017631
São Francisco de Itabapoana/ RJ2019/20233825921629
Notas:1As fases 1, 2 e 3 foram realizadas em 2017. Após a criação da fase 4, como uma oportunidade de melhoria identificada, em 2019, a quarta fase foi realizada nesses locais do projeto piloto.2As fases 1, 2 e 3 foram realizadas em 2018. Devido à pandemia da COVID-19, as atividades foram interrompidas e concluídas em 2022, com a implementação da fase 4.3As fases 1 e 2 foram realizadas em 2019. Devido à pandemia da COVID-19, as atividades foram interrompidas e concluídas em 2022, com a implementação das fases 3 e 4.

A criação do módulo de Limpeza de Praias, iniciada em resposta a pedidos da comunidade durante o projeto piloto, provou ser uma adição bem-sucedida em 2019 em Anchieta/ES e Itapemirim/ES, seguida pela implementação em São João da Barra/RJ e São Francisco de Itabapoana/RJ em 2023. A demanda por este novo módulo foi robusta, com quase todas as vagas disponíveis preenchidas nos respectivos municípios.

Em todas as fases do projeto, especialmente na fase de treinamento, a participação ativa demonstrou o impacto positivo do Projeto Mar Atento. Depoimentos de participantes e comentários nas redes sociais destacaram o aumento da conscientização sobre a preservação ambiental, os riscos das atividades de petróleo e gás (P&G) e a importância do envolvimento da comunidade nas respostas emergenciais a derramamentos de óleo.

O conhecimento meteoceanográfico demonstrado pelos pescadores durante os módulos de treinamento prático confirmou o alcance dos objetivos do projeto. A recepção positiva e os resultados obtidos destacam o Projeto Mar Atento como uma forma eficaz de colaboração entre o setor de petróleo e gás e a comunidade pesqueira, servindo como uma ferramenta essencial para melhorar o preparo para emergências e promover comunidades resilientes.

O projeto não apenas fortalece os laços entre a comunidade e o setor, mas também envolve ativamente as autoridades locais, como exemplificado por um evento real de derramamento de óleo na Bacia de Campos que afetou o litoral de Cabo Frio/RJ. Nesse caso, os pescadores que haviam participado do Projeto Mar Atento colaboraram proativamente com as autoridades locais e com a parte responsável para contribuir com os esforços de resposta. Essa demonstração prática evidencia a eficácia do projeto em capacitar a comunidade pesqueira para desempenhar um papel ativo, seguro e informado durante situações de emergência, promovendo uma abordagem colaborativa e resiliente no enfrentamento dos desafios ambientais.

A fase de Planejamento surge como um determinante fundamental do sucesso do projeto, enfatizando a importância de compreender as necessidades da comunidade e navegar pela dinâmica do setor pesqueiro. A comunicação proativa com líderes locais, presidentes de colônias e pescadores permite a seleção de locais, datas e horários ideais, facilitando uma maior participação dos pescadores.

O banco de dados que foi construído ao longo do projeto surge como uma ferramenta valiosa para resposta a emergências, agilizando a identificação de recursos de resposta secundária capacitados.

A manutenção de informações atualizadas no banco de dados, especialmente para Embarcações de Oportunidade e pescadores treinados, é essencial para a ativação eficiente durante emergências, facilitada principalmente por meio de contato telefônico e informações sobre as embarcações.

No futuro, a principal oportunidade de melhoria reside na implementação de treinamentos de reciclagem para manter o conhecimento dos participantes e incentivar um diálogo contínuo.

É imprescindível atualizar regularmente o banco de dados de Embarcações de Oportunidade e de pescadores treinados, garantindo a disponibilidade de informações atuais para ativação durante emergências.

Levando em conta o potencial de exploração de petróleo e gás ao longo da costa brasileira e a presença de comunidades pesqueiras, o Projeto Mar Atento apresenta capacidade de expansão. As etapas iniciais envolvem a extensão do projeto para a Bacia de Campos, com possibilidades de expansão para atividades portuárias. A receptividade dos pescadores e o desejo expresso por eles de receber mais treinamento fornecem uma base para considerar a viabilidade de expansão para novos locais e o aumento da frequência de treinamento em locais já treinados.

Para validar e aperfeiçoar os mecanismos de resposta a emergências, recomenda-se incluir membros treinados da comunidade pesqueira e suas embarcações em simulações e exercícios conduzidos pelo setor regularmente. Esses exercícios oferecem uma oportunidade de avaliar os tempos reais de mobilização, avaliar a capacidade de resposta da comunidade e das Embarcações de Oportunidade e garantir a compreensão e a execução das informações compartilhadas durante as sessões de treinamento.

CONCLUSÕES

Como parte dos esforços contínuos para aprimorar a capacidade de resposta a emergências do setor de petróleo e gás (P&G), iniciativas como a publicação de documentos como o programa APELL (Awareness and Preparedness for Emergencies at Local Level – Programa de Conscientização e Preparo para Emergências a Nível Local) (UNEP, 2015) destacam a importância de envolver as comunidades no processo de preparo e resposta a emergências. O Projeto Mar Atento é um exemplo louvável dessa iniciativa, com o objetivo de engajar e treinar a comunidade pesqueira para que seja proficiente na resposta a emergências, especialmente aquelas envolvendo derramamentos de óleo no mar.

Por meio da implementação do Projeto Mar Atento, foram formadas parcerias significativas entre o setor de petróleo e gás, as comunidades-alvo e as autoridades locais/regionais. O interesse entusiasmado demonstrado pelas comunidades pesqueiras em treinar seus membros foi fundamental para o sucesso e a inovação desse empreendimento.

Ao longo do projeto, aproximadamente 294 membros da comunidade pesqueira passaram por treinamento em seis municípios costeiros dentro da Bacia de Campos, no Brasil.

Além disso, 93 Embarcações de Oportunidade foram registradas nesses locais. O projeto culminou com o estabelecimento de um banco de dados abrangente, catalogando os membros treinados da comunidade pesqueira e suas embarcações com base em suas localizações ao longo da costa brasileira. Esse banco de dados aumenta significativamente a capacidade e a eficácia das respostas a derramamentos de óleo na região.

Como resultado tangível do Projeto Mar Atento, o setor de P&G, as comunidades locais e as autoridades estão agora melhor preparadas para responder a possíveis derramamentos de óleo. Olhando para o futuro, os desafios do Projeto Mar Atento incluem o aumento da frequência das sessões de treinamento, a implementação de iniciativas de treinamento de reciclagem, a manutenção da precisão do banco de dados, a integração da participação de pescadores e suas embarcações em exercícios liderados pelo setor e a expansão do projeto para abranger outros municípios ao longo da costa brasileira. Esses desafios ressaltam o compromisso do projeto com a melhoria contínua e sua missão de promover uma comunidade resiliente e bem preparada diante de possíveis emergências.

REFERÊNCIAS

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